Sempre nos meses do meio do ano eu fico muito reflexiva, principalmente por completar mais um ano da passagem do meu pai em junho.
O luto não acaba, ele só se modifica, se acomoda. Penso nele todos os dias e o menciono muito até hoje. E, ao me olhar no espelho e lembrar da semelhança física que tenho com ele, só penso que sei que ele tá feliz pelo rumo que dei pra minha vida.
Os últimos 6 anos foram uma montanha russa de emoções. Das individuais às coletivas (por conta da pandemia).
Vez ou outra eu via uma foto minha de antes da pandemia e pensava: “quando é que eu vou ser assim de novo?” A resposta é: nunca. A gente nunca volta a ser o que foi um dia. A Katia de 2024 e a Katia de 2019 viveram coisas diferentes.
Mas confesso que sentia saudades da Katia gostosona, radiante, mesmo que ignorando o fato que, mentalmente, eu estava muito confusa com tanta coisa nova pra dar conta.
A pandemia veio e eu sofri demais com o isolamento. Logo quando eu me sentia livre, fui obrigada a me recolher. Foram 2 anos de estagnação pessoal, mesmo que eu tenha seguido com meu trabalho e estudando bastante para me manter crescendo como empreendedora e como professora.
Eu mal me olhei no espelho desde aquela época. A vontade de me arrumar foi embora, descontava a tristeza na comida (ainda mais por ter passado a ser uma ótima cozinheira durante a pandemia) e no vinho (pois eu sentia que, quando mais eu me anestesiasse, talvez esse período passasse mais rápido).
Com as vacinas, fui voltando a trabalhar presencialmente e a sair mais. Aí perdi meu Luke no fim de 2021 e tive covid no começo de 2022. Tive que lidar com algumas sequelas dela até recentemente, o que - em 2023 - incluiu um tratamento pesado com corticóide que me fez engordar demais e também me deixou muito inchada. Passei por médicos maravilhosos e por médicos terríveis nesse período (inclusive o que aparentemente causou o problema que me fez ter que tratar com uma tonelada de corticóide, tirou o corpo fora e foi bem gordofóbico).
Que autoestima continua em alta numa situação assim? Acho que nenhuma.
Enquanto passei mais de um ano sempre tratando alguma doença decorrente do covid ou de uma má prática médica, eu foquei em melhorar. Era só isso que eu queria.
Quando fui pra Alemanha, no ano passado, foi quando a virada começou. Se eu era capaz de melhorar e ir pro lugar que eu mais amo no mundo, eu seria capaz de ter outras melhorias na minha vida. Só que levei para um outro extremo. Me dediquei ao trabalho a ponto de quase ter um burnout em abril deste ano, para aplacar a solidão que eu sentia. (Obs: Esse negócio de demorar pra encontrar um meio termo sempre me ferra de algum jeito…)
Voltei da Alemanha orgulhosa de mim mesma e voltei a fazer pilates logo em seguida. Hoje posso dizer que tenho um corpo forte de novo, que me possibilita ter a qualidade de vida que preciso para fazer bem meu trabalho, cuidar de mim e da Leia, sair pra aproveitar a vida da forma que eu gosto, indo a shows e afins.
Quando o corpo voltou a dar conta da minha rotina, passei a comer melhor por não estar mais descontando na comida as minhas frustrações e por ter energia de chegar em casa e conseguir cozinhar para os próximos dias.
Do ano passado pra cá, esse processo aconteceu com altos e baixos. Fiquei mal com a constatação de precisar usar óculos multifocais, fiquei feliz em voltar pro pilates, fiquei mal por machucar o pé duas vezes em poucos meses, fiquei feliz com roupas novas que me ajudaram a me sentir bonita (contei esse post do meu blog), ainda estou passando mal mensalmente por conta de um mioma que vai precisar ser removido. Enfim, altos e baixos.
Em maio, respirei fundo e resolvi comprar uma calça jeans nova pra mim, sabendo que eu teria que comprar alguns números a mais do que eu tinha no armário. Saí da loja com um jeans tamanho 48 e um vestido rosa justo, tamanho GG. Me senti maravilhosa com essas peças. Era o começo da revolução. Comprei também um novo batom vermelho, pra renovar uma das minhas marcas registradas.
Em junho, voltei a costurar pra mim. Eu conto há anos que eu não consigo costurar quando não estou bem. E pouco costurei nesses últimos 6 anos. Eu me alegrava com a produção e evolução de quem frequenta as minhas aulas, mas eu mesma não fazia. Uma saia de tule com brilhos me fez sentir potente de novo (conto tudo sobre esta saia aqui).
O meu armário estava no mesmo estado de 2019. Eu não tinha coragem de mexer nele e me deparar com as roupas que não me serviam mais ou que eram da fase da energia de gostosa (energia que eu tinha perdido).
Em julho, dei uma repassada em tudo. Separei as roupas que eu não queria mais, separei o que não me servia e fui lá experimentar algumas roupas pra ver se serviam e se elas me ajudariam a recuperar a tal energia de gostosa. E elas serviram. E eu me senti maravilhosa com elas.
Voltei a fazer as unhas toda semana, num gostoso ritual de final de domingo. Decidi voltar a ter cabelo comprido também. Em agosto costurei uma nova blusa usando um tecido comprado em 2016.
Voltei a tratar esse assunto da autoestima a respeito da minha imagem na terapia. Os anos anteriores foram pra cuidar de traumas e dores que demoraram a passar. Cuidei também da minha síndrome de impostora crônica e hoje sei o quanto eu sou boa no que faço, em administrar minha vida e cuidar de quem eu amo (inclusive eu mesma).
Quando a gente resolve alguns pontos pendentes na vida, vamos abrindo espaço pra cuidar de outros. Agora é mesmo a hora de cuidar da minha autoestima. Me sentir maravilhosa por estar saudável, forte fisicamente, capaz intelectualmente e profissionalmente e não me deixar abalar pelo peso que aparece na balança, pelo tamanho que marca na etiqueta da roupa que comprei ou nas medidas dos meus moldes que tenho executado.
Enfim, estou recuperando a energia de gostosa. Tem gente que chama isso também de borogodó, também gosto deste termo.
Por enquanto, decidi diminuir o ritmo de vida, trabalhar, ir pra casa, comer bem, ficar com minha Leinha, cuidar um pouco da casa por dia. Ir pro pilates nos dias marcados também. Ficar um tempo com minha mãe e meu irmão. Fazer alguns programas culturais e ver amigos.
Consegui, depois do quase burnout de abril, desligar de ter que estudar tanto e trabalhar demais. Em algum momento eu volto, num ritmo possível, pois sou muito inquieta nesse aspecto. Me sinto bem e em movimento quando estou estudando. Mas precisei deixar a mente descansar. Cuidar de mim agora é prioridade. Voltei a estudar alemão em novembro. Depois de ter parado em 2016, está sendo muito gostoso voltar pra algo que me fazia tanta falta.
Reordenar prioridades e estipular prazos possíveis pros meus planos futuros foi fundamental. Me cobrar menos e me divertir mais também.
Aí deu tempo de olhar no espelho, ser gentil comigo mesma e voltar a ficar feliz com o que vejo. Essa mulher do borogodó voltou. Que alegria.
Faltando pouco mais de um mês pro meu aniversário de 45 anos, retomei mais um ritual que eu adorava: fazer a roupa que vou usar no meu aniversário. Costurei um pouco do meu macacão por dia, nos dias possíveis. Foram horas deliciosas em que me senti incrível pois lembro a cada minuto do quanto sou capaz de fazer com minhas próprias mãos, que cada roupa minha tem uma história, que todas elas estarão aqui pra eu poder seguir vivendo e contando as histórias da minha vida através delas.
Tenho planos pro ano que vem e eles me animam. Uma rotina ainda um tanto pesada mas menos sufocante se estabeleceu por aqui, dando espaço pra eu voltar pras coisas que me importam. Aí a energia de gostosa voltar é só consequência. Que bom que esse momento chegou.
Que texto maravilhoso 💜 sua escrita me encontrou como um abraço que eu precisava. Que possamos ter cada vez mais tempo para construir e celebrar nossa autoestima - e nossa energia de gostosa cada vez melhor!